sábado, 31 de maio de 2008

OPEN THE SOURCE

É fato que as pessoas - pelo menos as que lêem - tem certo interesse, algumas até fascínio, pelo que se convencionou chamar de “processo criativo” dos escritores. Mas estávamos falando de escritores. O que dizer dos beletristas?

Embora eu ache que exista pouca gente querendo saber em que sentido giram as engrenagens na minha cachola, acho que a tentativa de verbalizar o que se passa durante o processo de concepção de uma narrativa me ajuda a colocar as coisas em perspectiva. A olhar de longe e pensar no que pode ser melhorado no futuro. Mas fiquem tranquilos. Não vou tentar explicar a piada.

Pode parecer meio prematura tentar falar das entranhas de um conto - ADSENSELESS - que ainda está em sua segunda parte. Parte esta, aliás, que foi publicada com um atraso de pelo menos três meses (uma vez que estabeleci uma deadline pessoal de trinta dias entre um capítulo e outro).

Lá em cima, utilizei a palavra beletrista sem falsa modéstia ou intenção de ser engraçado. Embora a palavra tenha uma carga pejorativa indelével a essa altura do campeonato, beletrismo, segundo o Houaiss, também pode significar, entre outras coisas, “atividade literária diletante ou puramente recreativa”. Acho que é o meu caso.

Eu, literalmente, escrevo quando dá. Embora esteja numa relação quase simbiótica com um laptop, um smartphone com tecladinho QWERTY e um bloquinho, a escrita - pelo menos a de ficção, essa que me dá prazer - ocorre aos poucos, em doses homeopáticas. Acredito que parte disso se deva ao fato de eu passar uma boa parte do dia macetando as teclinhas de plástico do Dellzão. Não ter uma rotina - meus horários de trabalho costumam variar bastante - também pesa. Às vezes, contudo, escrevo no trabalho. Me considero, aliás, o Alt + Tab mais rápido do Oeste. 

A idéia de ADSENSELESS veio quando eu estudava mais sobre o Google Adsense. Comecei a tomar notas para o que seria um continho, quase uma anedota, sobre a publicidade nesse começo de século XXI. Quem surgiu primeiro foi, claro, Macanudo.

Quando publiquei a primeira parte, a segunda já estava praticamente escrita. Só que não gostei do texto e resolvi deixá-lo cozinhando. Enquanto isso, no mundo real, muita coisa aconteceu, e acabei deixando o texto meio de lado. Voltei à segunda parte dias atrás. Mexi aqui, ali, e, embora tenha achado o resultado satisfatório, penso que talvez ele não tenha transmitido todas as idéias que planejei. Paciência.

O “processo” varia. Neste caso, para cada parte do conto, crio um arquivo separado. Fica mais fácil manipular o texto. Também criei um outro arquivo, onde despejo tudo quanto é tipo de informação que julgo interessante: links, trechos de diálogos, notas e por aí vai. Nesse mesmo arquivo há pequenas bios dos personagens que apareceram e ainda vão aparecer, assim como um roteirinho dos 6 capítulos originalmente planejados.

O capítulo 3 nem foi iniciado ainda. Com exceção de quarenta e sete palavras no arquivo de notas que descrevem em linhas bem gerais o que vai acontecer, não há mais nada.

A parte 4, por sua vez, já tem pouco mais de 100 palavras, além daquelas no arquivo de notas. 

A parte 5, vejam vocês, já passou das 1000, e provavelmente terá que ser dividida, o que aumentará o número de partes para um cabalístico 7.

E, por fim, a parte 6 (que provavelmente será a 7, note) também não existe, a não ser por uma frase que define o que será o clímax da história.

Não considero ADSENSELESS ficção-científica, propriamente dita. Não que não goste do gênero, muito pelo contrário. Mas acho que para chamar minha ficção de científica, terei que comer mais um pouco de feijão. Sim, há technobubble, infodump e essas coisas, mas é mais uma maneira de extravasar minha tecnofilice do que qualquer outra coisa. O que me interessa na ficção, de qualquer gênero, são as possibilidades.

Ok, eu sei que o Ellis já fazia isso há dez anos, mas mesmo assim, vamos lá: ouça, no talo, Release, do disco A Fine Day To Exit, da banda britânica Anathema. Leia Kafka à beira-mar, de Haruki Murakami, que eu ainda não finalizei, mas, até o momento, compensa cada página.

sábado, 24 de maio de 2008

ESCRIBA - SOFTWARE PARA ESCRITA DE ROTEIROS

Voltando ao assunto do penúltimo post, agora Frank Baiz divulgou o nome do seu programa - Escriba - assim como seu novo site.

Agora, se entendi direito, o software é construído em cima de uma teoria desenvolvida pelo próprio Baiz, então ao invés de evocar a imagem do Movie Outline, agora a coisa me parece mais com o já famoso combo Movie Magic + Dramatica.

Particularmente não curto muito softwares para "construção" de histórias, como o Dramatica, mas estou curioso para ver como será o Escriba.

(e sim, só pra variar, eu vi esta notícia no Blogacine)

terça-feira, 20 de maio de 2008

ADSENSELESS - Parte 2

Demorou mais do que planejei, mas saiu. O endereço é o que segue:

http://txt.blogsome.com

ADSENSELESS - Parte 2

Márcio Massula Jr.

Idosos são, em sua grande maioria, neoludditas.

Mas sempre existem as exceções à regra. E, neste caso, a exceção era bem simpática, contudo, devido a sua estatura, obrigava Macanudo a se curvar num ângulo que dentro em breve faria com que caísse e cravasse a cabeça no concreto.
***
Você vai chamar atenção por onde for. Esse é o objetivo. Nunca desvie os olhos de quem estiver olhando para você. Seja simpático. Sorria. Cative as pessoas.

Macanudo não se lembrava em qual momento do treinamento este tópico tinha vindo à tona, mas as palavras do instrutor ribombavam em seu crânio exatamente como no dia em que ele as ouviu.
Após uma semana entre os odores anódinos do Centro de Recuperação da Googolplex, ter as narinas incendiadas pela mistura quase alquímica de sudorese e gás carbônico do mundo real era como tomar um murro no meio do rosto. E foi assim que Macanudo iniciou sua jornada pelo centro da cidade. 

Desorientado, com medo e sentindo dores em lugares bem estranhos.

Era estranho ser o centro das atenções. Ele tentava, na medida em que podia, dar um sorriso bem grande, daqueles capazes de buscar a reciprocidade dos cafundós das personalidades apressadas dos transeuntes. Mesmo assim, a maioria das pessoas simplesmente virava o rosto. O desejo de chegar logo em casa aumentava a cada pedestre que passava direto – o que não era bom para os negócios – até que a exceção estacou-se em sua frente, tombou a cabeça um pouco de lado num gesto de curiosidade, e deixou escapar o mais bonito – e único – sorriso que Macanudo vira naquela manhã.

A exceção, uma senhora que já tinha passado há muito dos sessenta, fez um pequeno sinal com o indicador minúsculo, na direção da testa de Macanudo.

- O que é isto?

Era a deixa. E Macanudo praticamente vomitou o texto que havia decorado durante o curso de preparação na Googolplex.


***

- Olha só os preços disso!

- Disso o quê?

- Meu Deus do céu!

A mulher estende o dedo em direção à tarja de Macanudo, que, sem saber exatamente o que fazer, permanece parado. Ela detém a falange a poucos centímetros da testa de Macanudo.

- Posso?

- Bem...acho que pode sim.

- Você pode se abaixar só um pouco?

Macanudo não sabe o que pensar. Por que a mulher quer tocar sua testa? Ele até entende que há uma curiosidade natural pela novidade, e até esperava esse comportamento de uma criança, mas, bem, isso era estranho. A velha deslizava os dedos por sua testa, talvez experimentando a textura. Inclinado daquela maneira, Macanudo, para amenizar um pouco o constrangimento, fixou os olhos nos sapatos da mulher, duas pecinhas muito delicadas que já haviam saído de moda havia um bom tempo, e, mesmo assim, continuavam impecavelmente bonitos. A mulher dava pequenos toques em sua testa, como se estivesse manipulando um dispositivo touch-screen. E, até onde Macanudo sabia, a tarja não era touch-screen.

- Você não tem um teclado?

- Como?

- Um teclado virtual.

- Hã...presumo que não, senhora.

- Ah!

- O quê?

- Tem sim!

- Tenho?

- Tem. Ele apareceu aqui. Espere só um pouco.

E seguiu-se mais uma sequência de toques na testa. Às vezes a mulher parecia esquecer que atrás daquela tela havia uma cabeça e pressionava tão forte que Macanudo ficava a ponto de perder o equilíbrio. Depois ele se preocuparia com a funcionalidade que desconhecia. O que importava agora era agradar a cliente. Momentos depois, a mulher se deu por satisfeita.

- Obrigado.

- A senhora, hããã...encontrou todos os dados que procurava?

- Bem, na verdade eu estava verificando meus e-mails. Esqueci meu smartphone no escritório. Sabe como é...

- A senhora viu seus emails na minha testa?

- Vi sim. Você não sabia que fazia isso?

- Ah, claro! Sabia sim. É que, bem, os usuários não costumam dar muita bola para esse recurso, sabe? - 
Macanudo tentou disfarçar com um sorrisinho cambeta.

- Certo, certo. Muito obrigado, então. Tchau!

O mulher dá alguns passos e depois vira-se.

- Gostei da novidade!

Esse episódio foi como uma injeção de ânimo. Macanudo passou a sentir-se mais seguro, o que, de certa forma, passou a mesmerizar as pessoas. No restante do caminho - que incluiu uma viagem de metrô - ele seguiu à risca os procedimentos indicados no manual. As pessoas olhavam umas para as outras, paravam e sempre havia aquele mais extrovertido, que acabava tomando a frente da situação e perguntava:

- Mas que porra é essa na sua testa?

***

Obviamente, a primeira coisa que Macanudo fez ao chegar em casa foi ver sua página pessoal na Googolplex para checar quanto tinham lhe rendido as conversas que tivera rua afora. Os créditos ainda não constavam, mas ele sabia que poderia haver um período de vinte e quatro horas até que o saldo do Vetor estivesse devidamente atualizado. Estava no manual. Então ele se lembrou das funcionalidades que desconhecia e ligou para o número que lhe deram.

- Centro de Atendimento ao Vetor. Em que posso ajudá-lo, senhor...Macanudo?

- Como você sabe que sou eu?

- Bom, nós somos o Centro de Atendimento ao Vetor. Este número só é dado aos Vetores. E o senhor é único Vetor, sabe?

- Ahhhh...

- Em que posso ajudá-lo?

- Bom, é meio constrangedor falar isso, mas, bem, me aconteceu uma coisa meio estranha hoje na rua, em minha primeira empreitada, e, bem, vamos lá: eu tenho um browser na minha tarja?

- Tem sim senhor. Assim como um pacote de escritório completo e todo o restante do nosso portfólio. Tudo acessado pelo seu browser, na verdade.

- E porque ninguém me avisou disso?

- É que essa tecnologia foi desenvolvida após sua alta do nosso Centro de Recuperação.

- Mas eu saí de lá faz três horas!

Silêncio no outro lado da linha. Macanudo tem a impressão de ouvir o leve matraquear de um teclado.

- Desculpe, senhor. Isso foi uma coincidência, devo dizer. O senhor não foi notificado?

- Notificado? Como?

- Via email.

- Não, não fui não. Estou com minha caixa de entrada aberta e não há nenhuma mensagem de...
Macanudo se viu obrigado a interromper o comentário quando, repentinamente, surge uma mensagem da Googolplex em seu computador, indicando ter sido enviada quase quatro horas antes.

- Ei, recebi sua mensagem só agora!

- Veja só o senhor. Hoje é mesmo o dia das coincidências, não? Deve ter sido algum problema nos nossos servidores.

- É, deve ter sido mesmo. Tudo bem. Obrigado então. Como é seu nome?

- Pode me chamar de Junior.

- Tá bom, Junior. Acho que ainda vamos nos falar muitas vezes.

- Vamos sim, senhor.

segunda-feira, 19 de maio de 2008

MAIS UM SOFTWARE PARA ESCRITA DE ROTEIROS

É! Só que desta vez desenvolvido pelo roteirista Venezuelano Frank Baiz Quevedo, mantenedor da famosa La Página del Guión.

Pelo que entendi, o objetivo do software é mais estruturar uma história (como o Movie Outline) do que redigir o roteiro em si, embora ele também vá contar com um processador de textos exclusivo para isso. Será interessante ver quão diferente um produto criado sob a ótica de um roteirista sul-americano será. Estou curioso para ver resultado.

(como não poderia deixar de ser, via Blogacine)

quarta-feira, 14 de maio de 2008

ENTRE IDAS E VINDAS

Nesse fim de semana dei um pulo em casa - para quem não sabe, o ramo épsilon-teta-gama do clã dos Massula, após muita deliberação, decidiu sediar sua base de operações, permanentemente, em Curitiba - e vi aceso novamente meu interesse pela anatomia de uma história em quadrinhos.

Talvez por ter achado NARRATIVAS GRÁFICAS, do Eisner, mais um dos bons livros que eu comecei e, sabe-se lá porque, larguei pela metade. Não me vejo, pelo menos não num futuro próximo, perdendo tempo digitando o que quer que seja que tenha a intenção de se transformar numa história em quadrinhos. Muito suór, sofrimento e decepção, vocês já devem ter lido a história alguma vez por aqui.

De qualquer maneira, eu já estava com o livro do Peter David aqui no hotel - outro que há certo tempo aguarda para ser lido - e não é que, no aeroporto, descubro que saiu DESENHANDO QUADRINHOS, o livro novo do McCloud?

Sim, eu sei, o livro saiu ano passado e foi anunciado em tudo quanto é blog/site de quadrinhos. Mas eu, que não tenho passado mais tanto tempo surfando por essas bandas, não vi. Comprei, obviamente.

Para muita gente, pode parecer estranho alguém que um dia se auto-proclamou “roteirista de quadrinhos” (hahaha...) mostrar interesse por um livro que tem a palavra *desenhando* no título, certo? Errado.

Primeiro: apesar do nome, o livro não é sobre desenho em si. É sobre narrativa, algo que todo roteirista wannabe deveria se preocupar em conhecer. Na verdade, a tradução do título foi meio infeliz, uma vez que o original - MAKING COMICS - cobre um espectro maior do que o ato de desenhar, somente..

Segundo: qualquer atividade, seja criativa ou técnica, está relacionada a outras. O mínimo que alguém que deseja ser bom em algo precisa fazer é saber o que se passa à volta do seu ofício.

Terceiro: Eu sou fã do McCloud.

SCRIPPED.COM

Mais um formatador online para roteiros cinematográficos. De qualquer maneira, continuo preferindo o Zhura.

terça-feira, 6 de maio de 2008

SOPHOCLES SCREENWRITING SOFTWARE - R.I.P.?


Embora eu seja defensor ferrenho do Celtx e tenha feito o projeto do meu primeiro roteiro de longa nele, o roteiro em si foi redigido no Sophocles, que tem alguns recursos mais atraentes que o programa canadense. Cheguei mesmo a considerar seriamente a possibilidade de comprá-lo.

Mas, há dias o site do Sophocles está fora do ar, e bandeando pela internet acabei esbarrando neste fórum, que me levou a este outro, onde um longo tópico - que, evidentemente, termina descambando para outro assunto - tece teorias sobre o que realmente aconteceu.

Se o programa dançou mesmo, é uma pena. Era uma boa ferramenta.

ATUALIZANDO: E a coisa ganha contornos cada vez mais tragicômicos...

segunda-feira, 5 de maio de 2008